quarta-feira, 8 de julho de 2009

Daft Punk's Electroma - Crítica


Encontrei no site Zeta Filmes esta crítica feita ao filme Electroma e achei bem interessante. Segue na íntegra:

04/10/2006
Sem qualquer palavra, “Electroma” comunica turbilhões. A mente viaja longe, o coração entristece. Somos todos robôs ou estamos robotizados?
Bernardo Krivochein (Rio)


Abandonados na pista, o público muderno da náite é dispensado com longos planos contemplativos de dois robôs caminhando pelo deserto. Nada de bps. Nada de ferveção. Nada de efeitos. Nada de drogas. Abandonados à solidão de seus próprios pensamentos, o público muderno da náite suspira. Se entedia. Pensa em que corte de cabelo vai adotar em seguida. Na blusinha da Puma que vai entrar em promoção. No que o DJ Chupa Rôla (verdadeiro nome: Cléber) está fazendo com aquela garota que é uó. Abandonados no deserto, o público muderno da náite canta o seu adeus da sala de exibição antes do amargo fim que reserva “Electroma”.

“Electroma” tem sua pretensão perfeitamente equiparada com sua funcionalidade. Sem diálogos, apenas efeitos sonoros e músicas de outros, os franceses do Daft Punk têm em sua carreira musical seu maior inimigo cinematográfico. Ao sugerirem uma experiência puramente visual, renegam sua principal carreira, mas entendem os meios em que agem. “Electroma” não é uma tradução cinematográfica daquilo que realizam musicalmente, ainda que, os diretores trabalhem a humanização das máquinas em suas letras e no modo como se apresentam à imprensa. Eles são diferentes artistas em cada meio. A sacanagem é que “Electroma” é muito melhor que o último disco do Daft Punk, “Human After All”, chatíssimo.

Tem uma historinha: dois robôs desejam se tornar humanos. Não conseguem. São expulsos da cidade e caminham pelo deserto, sem perspectivas. É “Gerry” com robôs, porque ser estrelado por Matt Damon e Casey Affleck o fazia tão mais palatável para o públi-cuzinho. Após um começo repleto de idéias visuais impactantes (os diretores deixam bem claro que pensam cinematograficamente e isso é inegável) e até bem humorado, “Electroma” torna-se essa fábula deprimente sobre abjeção, uma vez que os robôs, incapazes de aceitarem sua condição e sem entender o que faz de um humano, humano, vagam sem rumo até perceberem o despropósito de sua existência. Assassinato! Explosões! Morte! Ou melhor: ... assassinatos... é, e explosões também... sei lá, não tô afim... morte...

Trama simples que requer o mínimo de verniz possível. Todas as idéias estão lá, sem o auxílio desse negro quadro-negro que é a ditadura do diálogo expositivo. A tendência do festival é gente/coisa pegando fogo: na abertura, na vinheta da Film Four e em “Electroma”. Sem qualquer palavra (mas com uma trilha-sonora de canções infalíveis, em perfeita sincronia com o que se vê projetado na tela), “Electroma” comunica turbilhões. A mente viaja longe, o coração entristece. Somos todos robôs ou estamos robotizados? Experiência cinematográfica para poucos, mas que lava e purifica o sentido cinematográfico do espectador. Quadro que desafia o olhar com a impressão de movimento, mas essencialmente transmite desolação, morosidade. Fascinante silêncio sonoro capturado em câmera, vai bem além do peculiar ao qual o público muderno da náite preferiria relegá-lo e, ao forçar limites e imposições, consegue notoriedade cinematográfica.

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